Mas Ipiaú continua lá...e minhas lembranças também. E mesmo com todo silêncio naquelas ruas...ainda tenho um enorme prazer em me arrumar, sair de casa sozinha e ir visitar a primeira casa de amigo que aparecer no caminho. Assim o fiz...e fui parar na casa do meu primo Bráis. Lá fui eu, entrando nostalgicamente naquele quarto de cores quentes e "revolucionárias", me torcendo para não pisar nos seus desenhos feitos a caneta "Bic" e betume....espalhados pelo chão. Depois de um longo abraço, deito na cama e abro o bico numa conversa de aproximadamente duas horas. Lá vou eu contando um pouco de tudo que tem acontecido com a Colombina, inclusive sua agoniante história com o Arlequim, da qual o Bráis já havia sido previamente informado. Após ouvir a história um pouco mais detalhada...sua opinião mudou. Ele já não via tudo como antes e diz: "É preciso ser Alquimista! Tranformar chumbo em ouro!". Imediatamente franzi a testa, imaginando o quão impossível me parecia transformar a história da Colombina e do Arlequim em algo valioso e belo....e pior, fazer isso durar pra sempre. Mas depois de alguns minutos, passei a concordar com ele. Concordei que eu devia pegar aquela história bruta, separar o que havia de mais belo e puro nela, e cuidar... guiar aquela história para o caminho que a transformaria na realização de um final feliz. Era só uma questão de cautela... ser um Alquimista, que sabe o que faz, mas nem por isso deixa de agir com cuidado. Pegar o que há de belo num sentimento inseguro e aos poucos transformá-lo num sentimento firme. Mas acima de tudo...estar preparado para qualquer resultado.
E foi com essas palavras que peguei o ônibus de volta. Foi com essas palavras que deixei a cidade de Ipiaú, deixei a família, deixei o que sobrou dos amigos e voltei para o meu mundinho...cotidianamente falando. Fazendo o de sempre, pensando o de sempre....vivendo o de sempre. Mais segura, nem que seja pelos próximos dias.
