A colombina continua vivendo. Já não dança como antes. Até tentava, mas não sente em seus pés a mesma capacidade de manter passos leves e seguros como fazia a tempos atrás. Pôs-se então a andar. Vagar sutilmente levada por lembranças pertubadoras que arrepiavam corpo e alma. Atravessou as ruínas e chegou ao bosque. Sentou-se na de baixo da maior árvore, onde havia mais sombra e onde podia-se sentir a brisa daquela tarde. Achou um livro de capa colorida. Como de costume, olhos as últimas páginas e percebeu que as últimas frases estavam incompletas....era uma história sem fim...uma história que ainda estava sendo escrita pelo tempo. Intrigada a colombina resolveu devorar cada página daquele livro colorido que contava a seguinte história:

"Era uma vez uma flor que habitava o pico de uma montanha. Alí era um lugar onde homem nenhum havia alcançado já a algum tempo. A flor era de uma beleza hipnotizante, digna de pintura, dotada de um aroma envolvente como nenhum outro e possuía em seu delicado caule um elixir raro, capaz de curar os tantos males que apavoravam o mundo lá em baixo. Dalí do alto daquela montanha, que se tornou gélida com o passar dos anos, a flor passou sua vida a observar as aventuras de senhores que tentaram escaladas frustradas para alcança-la. Cada tentativa era uma esperança e cada derrota era como a dor de uma pétala arrancada. O gelo da montanha dificultava o acesso, e a maioria dos senhores desistiam nas primeiras quedas. Um dia a flor pôde enxergar lá em baixo um pequeno alpinista, carregado de aquipamentos de escalada. Já havia assistido a cenas como aquelas inúmeras vezes...mas ainda assim se deixou assitir à tentativa daquele alpinista. Notou em seus olhos algo que não tinha visto em nenhum outro olhar....coragem. Ficou observando o alpinista, lenta e pacientemente alcançar cada etapa da montanha. Pelos difíceis obstáculos do caminho, sabia que ele acabaria desistindo. Quando notou...ele havia sumido do seu plano de visão. Começou a pensar que aquele seria mais um desistente. Sentiu-se murcha, pois nuunca havia chegado tão perto do seu sonho de sair daquela solitária montanha. Tão perto e tão longe. Eis que de súbito ela vê de perto o alpinista que finalmente havia conseguido chegar até o topo. Pôde ver o brilho dos seus olhos de perto sem nem acreditar que aquilo estava acontecendo.E o tão esperado encontro teve força capaz de derreter todo o gelo da montanha, o Sol brilhou no céu e iluminou as pétalas da flor deixando mais nítidas as cores que esperavam apenas aquele olhar para contemplá-las. Lá estavam a flor e o alpinista..."
A colombina viu-se chorar. Não queria sair dalí. Não queria fechar o livro. Queria viver aquela história....